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No 8º dia de julgamento de Gdeim Izik foram interrogados Abdallahi Toubali, Sidahmed Lemjeyid e El Bachir Khadda no tribunal de Sale, Rabat.
Durante o testemunho de Abdallahi Toubali o juiz pediu-lhe que assinasse duas folhas de papel em branco olhando para o lado, para ver se era possível faze-lo de olhos vendados e mãos algemadas como tinha denunciado Toubali.
Os advogados de defesa opuseram-se visto que evidentemente as condições e circunstâncias não eram as mesmas, mas mesmo assim o juiz não alterou a sua posição.
Toubali assinou e o juiz declarou ser a mesma assinatura, assumindo um papel de especialista em caligrafia.
Este episódio é apenas um mais do julgamento político do Grupo de Gdeim Izik, que parece ser um beco sem saída para Marrocos.
Não conseguem provar nem crime nem culpados e por isso transformam o caso numa caça às bruxas como fazia a inquisição e os regimes fascistas.
Abdallahi Toubali declarou-se inocente e disse “… ninguém fala das nossas vitimas do nosso sofrimento há mais de 40 anos”, a única esperança é que a ONU amplie a competência Minurso para proteger os direitos humanos nos territórios ocupados do Sahara Ocidental e implemente o referendo.
Toubali era membro do comitê de diálogo do acampamento e explicou que o campo nasceu devido à marginalização e repressão do povo saharaui, a população tinha exigências sociais.
Contou como em 4 de novembro, o ministro do Interior veio em nome do rei. O ministro concordou as nossas revindicação e deveria vir e implementar o acordo na segunda-feira (dia 8 de Novembro 2010 – dia do ataque das forças de ocupação ao acampamento), dando a cada cidadão no acampamento um cartão de beneficio social para depois sair do acampamento. Um acampamento de cerca 40 000 pessoas, rodeado desde o primeiro dia pelas autoridades marroquinas e um muro de areia construído por elas e com um único acesso de entrada e saída.
O ministro tentou subornar os membros do comitê, Toubali declarou: “tentou comprar-nos com dinheiro, e como não aceitamos ele começou a ameaçar-nos. A 4 de novembro ele disse-me na rua Smara “pega o dinheiro e sai” – eu disse-lhe que este é um compromisso com as milhares de pessoas no campo. Eu não vou decepcioná-los. As suas revindicações são legítimas” sou Saharaui” .
Toubali declarou: “Eu rezei com este homem, e ele enviou-me para a prisão?! Eu não entendo isso.”
O sequestro de Toubali
Segundo as suas declarações foi atacado no mercado por homens mascarados e levado para a polícia. “Torturaram-me, eu não pude andar por muito tempo Eles tentaram-me sodomizar com uma vara de metal, urinaram em mim, e cuspiam em mim… Fui transferido para a gendarmerie onde me perguntaram por que eu me recusei a aceitar Subornos e romper os compromissos, perguntou-me sobre o meu relacionamento com Naama Asfari, a Frente Polisario e a delegação na Argélia, repetiam as perguntas e eu disse-lhes que eu não sabia. Houcein Zawi juntou-se a mim nos dias seguintes;
Ele estava num estado deplorável, não podia ficar de pé, eu tirei minhas próprias roupas e troquei suas roupas e limpei-o tão bem como pude”
Ao chegar à Sale 2, fomos novamente torturados, sob o olhar atento do diretor da prisão. Era uma cela pequena… Por dois meses; Nós fomos constantemente assediados e torturados, dia e noite. Quando reclamamos, eles nos torturaram juntos. No final do seu depoimento, Toubali pediu ao juiz presidente para convocar o membro do parlamento que o acompanhava ao hospital no dia anterior a Gdeim Izik como testemunha e provar sua inocência. Quando perguntado como o acampamento foi organizado e como foi financiado, Toubali afirmou que:
“O Sr. Juiz tem que entender a cultura saharaui para entender o acampamento. Nós acreditamos na igualdade, solidariedade e em ajudar uns aos outros. Eu não posso comer algo se os meus amigos não comem. Quando eu compro pão, eu compro 4 pães para a minha família, e 2 para os meus vizinhos. Esta é a nossa cultura. Mesmo na prisão eu não posso comer um pedaço de carne e ver que os meus companheiros não têm.. o que temos dividimos, esta é a nossa maneira de ser, a essência dos saharauis.”
A este testemunho seguiu-se o de Sidahmed Lemjeyid. Sidahmed que começou por dizer que, se este fosse um julgamento justo, o julgamento deveria ser realizado na cidade ocupada de El Aaiun de acordo com a 4a convenção de Genebra. Declaraou que todas as delcarações foram obtidas sob tortura e forçado a assinar documentos cujo conteúdo desconhecia.
“Eu nasci no Sahara Ocidental que é ocupado por Marrocos. Sou presidente de uma organização que trabalha para revelar a violação dos direitos humanos nos territórios ocupados e o saque dos nossos Recursos Naturais. Estou aqui devido à minha posição política “.
Ele negou todas as acusações, e descreveu tanto o rapto como a tortura.
“Eu estava sujeito a todo tipo de tortura. É impossível explicar o que eu passei. A tortura é metódica para nos quebrar. Somos vitimas de racismo “.
Ele contou como foi questionado unicamente sobre o seu ativismo político e defesa dos direitos humanos. Segundo Lemjeyid a tortura era tão brutal, que quebraram um osso da sua coluna. Quando perguntou se podia ver um médico, o seu torturador respondeu; “Você merece morrer porque os seus relatórios insultam o grande Reino de Marrocos”. Foi privado de todos os meus direitos. Mostrou as suas cicatrizes ao juiz de investigação que o rejeitou e o mandou de volta para a prisão para mais tortura. “Levaram-me para uma cela, tiraram as
Explicou por que se recusava agora a submeter-se aos exames médicos ordenados pelo juiz-presidente, “exijo um exame imparcial e independente; O médico que você pediu para fazer o exame médico é empregado pelo Reino de Marrocos, e nunca pode ser imparcial”.
– Já lhe falei sobre meu sofrimento. Mas não é só o meu, também é o sofrimento do povo saharaui, que vive sob repressão desde 1975. ”
O último interrogado do dia 21 de Março foi El Bachir Khadda. El Bachir afirmou que é um ativista dos direitos humanos e que foi um dos fundadores da Equipe Media nos territórios ocupados. Descreveu como ele foi sequestrado a 4 de dezembro, com Hassan Dah e Mohamed Thalil, por homens mascarados;
“Eles levaram-nos a um lugar desconhecido, e torturaram-nos. Estávamos vendados, e não sabíamos se era dia ou noite. Fomos espancados enquanto interrogados sobre ativismo político”.
“Fomos transportados de avião para o tribunal militar e levados ao juiz. Pedi água, mas o juiz declarou que ali não era um café.”
Quando lhe perguntaram por que ele não tinha pedido um exame médico, El Bachir respondeu que temia pela sua vida, que nem sequer se aguentava em pé; E não queria pedir nada depois de ser negado até mesmo água. El Bachir declarou que exigia um exame imparcial e independente, de acordo com o protocolo de Istambul; Ou seja a realização do exame não poderia ser feita por médicos marroquinos ou funcionários de uma instituição marroquina.
“Fui torturado porque sorri à minha mãe quando ela me veio visitar. A tortura foi supervisionada pelo diretor da prisão”
“Não tínhamos roupas. Derramaram água gelado em nós, com sacos sobre nossa cabeça. Uma vez eu fui torturado porque sorri à minha mãe quando ela me veio visitar. A tortura foi supervisionada pelo diretor da prisão. ”
El Bachir começou o seu testemunho declarando que a Quarta Convenção de Genebra deve ser implementada, mas foi constantemente interrompido tanto pela acusação como pela parte civil. Ele explicou como a Convenção de Genebra deve ser aplicada tanto em tempo de paz como durante conflitos armados, de acordo com o art. 66 da quarta Convenção de Genebra.
Afirmou que é um saharaui que luta pelo seu direito à autodeterminação. Denunciou que as acusações só foram apresentadas para vingar o ativismo e a luta dos saharauis pelos direitos humanos. “O Estado de Direito está ausente no país do ocupante”.
“Eu sou em primeiro lugar um ser humano. Sou contra a guerra e pela paz “.