PUSL.- Nestes dias que ouvimos muitas pessoas que dizerem que estão “como na prisão” ou em “isolamento como na prisão” estas afirmações estão muito longe da realidade, no entanto o facto de estarmos em isolamento social parcial possa sensibilizar um pouco para o calvário que é o isolamento ou confinamento forçado de milhões de presos em todo o mundo.
Alguns durante anos e décadas, muitos deles presos políticos cujo único crime foi falar, exprimir a sua opinião e manifestar-se contra os poderes de ocupação e repressão.
Mesmo quando se trata de presos de delito comum o confinamento prolongado é uma tortura e pior é uma tortura diária que deixa marcas profundas psicológicas e físicas e cujo objectivo único é o castigo na sua forma mais cruel e maquiavélica.
Muitos dos presos políticos saharauis estão em confinamento prolongado nas prisões marroquinas. A maioria dos presos do grupo de Gdeim Izik há anos.
A semana passada Abdallah Abbahah, um dos elementos deste grupo, condenado a prisão perpetua, confirmou à família por telefone que continua mais de 23 horas sozinho na cela e quando sai vai para uma espécie de corredor que faz de pátio onde continua sozinho e onde não entra o sol. Numa prisão a mais de 1300km de distância do Sahara Ocidental e da sua família.
Não vou aqui enumerar as inúmeras violações que rodeiam as detenções ilegais destes presos, mas sim explicar um pouco o que sentem.
“estive em isolamento e também numa cela em grupo. No isolamento ouvimos vozes, falamos sozinhos, temos visões, dói o corpo, a falta de luz, de movimento enfraquecem-nos. A loucura é nossa companheira de cela.” testemunho do ex-preso politico saharaui Brahim Sabbar.
“Via aranhas enormes a comer o meu pé, sombras que me engoliam, era um pesadelo do qual não podia acordar, um terror constante. Sobrevive-se, mas não se vive, e nunca nos deixa, nunca nos abandona esta experiência, esta tortura. É terrível.” Degja Lashgar, ex-presa politica saharaui.
“Durante anos não ouvi o som das vozes de uma mulher ou de uma criança. Todos dias (durante 14 anos) pensava que vinham para me executar. O som das botas dos guardas era aterrador. Não sabia se alguém sabia se eu estava vivo. Não há ar, como sobrevivemos? Na verdade, não sei explicar. É muito difícil, muito. É uma tortura sem fim.” Mohamed Dadach, ex-preso politico Saharaui.
“Não conseguia respirar, era como estar num caixão, a sujidade, os cheiros nauseabundos, as vozes… tantas vozes na minha cabeça. Não sabemos quanto tempo passa, nada tem fim.” Houcein Zawi, preso do Grupo de Gdeim Izik.
“Levanto-me e sento-me, dou três, quatro passos e volto a repetir. Não há ar, o peito dói, a cabeça, a nossa memória fica cada vez pior, não podem imaginar o que é isto. Ninguém imagina o que isto é… Os sons da prisão, os gritos dos outros presos, os gritos de quem está a ser torturado.. é um inferno.” Abdallah Abbahah, preso politico do Grupo Gdeim Izik.
Saadoni Mutaguil Sabeg, ex preso politico saharaui conta a sua experiência mais recente em 2019:
“O impacto psicológico é enorme, mas também o físico. Não existem qualquer tipo de contactos humanos, excepto com os guardas ou durante as curtas visitas familiares quando são autorizadas.
Eu não tinha nada, nem jornais, nem livros, nem um rádio, nada. Só os meus pensamentos a minha voz. Foi fatal, terrível.
Estive em greve de fome durante 16 dias para conseguir que me deixassem ter um rádio, só para ouvir algo.
É uma experiência terrível, é necessário que o preso tenha uma grande resistência para não enlouquecer. É a nossa convicção e os nossos princípios dos quais temos que sorver a coragem e força para resistir.”
Estes testemunhos dos presos políticos saharauis são ecoados pelos presos políticos da Palestina, e dos presos e ex-presos de regimes fascistas e opressores de todo o mundo.
” El cura Paco” Paco Muñoz, um padre que trabalha há décadas nas prisões do Sul de Espanha conta-nos sobre o confinamento:
“Para mim, a palavra confinamento é uma palavra muito refinada para expressar o que é um confinamento dentro do encerramento que é prisão,
Quando alguém é punido dentro da prisão, a vida desse prisioneiro é tremenda, ninguém pode imaginar o quanto.
22 horas completamente sozinhos num pequeno espaço, talvez não haja mais que três ou quatro passos e duas horas para o pátio onde geralmente está sozinho, um pátio também pequeno e com grades por cima.
Eu ouvi muitos testemunhos muito duros de jovens que passaram anos nesse sistema prisional e todos ficaram marcados porque isso deixa-os loucos.
Eu mesmo pensei que se alguma vez estivesse ali, não duraria de seis dias sem enlouquecer.
Surpreende-me quando as pessoas dizem que sabem o que é uma prisão, não sabem nada! Prisão é a negação da vida, prisão é a anulação da pessoa, prisão é a tristeza andando, prisão como um deles disse é um cemitério de homens vivos, é a fábrica do choro, como disse Machado.”