ROMA – APS.dz – O “Marocgate” continua a desistir dos seus segredos a cada dia que passa, sendo desta vez a activista saharaui dos direitos humanos, Sultana Khaya, alegadamente vítima deste vasto escândalo de corrupção no Parlamento Europeu (PE) em que Marrocos está implicado, tendo sido rejeitada para o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento do PE.
Dando continuidade à saga “Moroccogate”, o jornal italiano “Il fatto quotidiano” – citando investigadores da Procuradoria Federal em Bruxelas – relatou que a interferência do regime marroquino não se limitou a influenciar as decisões do PE relativas a Marrocos, mas também envolveu a “nomeação de membros das comissões do PE que tratam de questões sensíveis para o país do Magrebe”, bem como “candidatos ao Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento”.
Analisando a lista apresentada por vários grupos políticos, “notamos que em 2021 o Grupo de Esquerda propôs Sultana Khaya, activista saharaui dos direitos humanos e defensora da independência do Sahara Ocidental ocupado, para ser incluída no trio de finalistas”.
Com a cumplicidade dos deputados europeus no pagamento de Marrocos, que exerceram pressão no PE, a activista saharaui foi privada deste prémio, enquanto estava em prisão domiciliária com a sua irmã e mãe em Bojador ocupado.
A este respeito, Sultana Khaya contou ao mesmo jornal a sua alegria por ter sido nomeada para este prémio enquanto esteve presa em casa, antes de expressar o seu desapontamento ao saber da sua derrota, afirmando que “não ficou nada surpreendida”.
“Desde o início, acreditei que o governo marroquino iria pressionar para alterar o resultado da votação”, disse ela.
“Esta candidatura tem sido muito útil para mim. Precisávamos de alguém que literalmente salvasse as nossas vidas. Esta candidatura pareceu-me ser um elo importante para o mundo exterior”, descreveu o activista.
Ela continuou: “Depois da violação de que fui vítima, descobrir que por detrás da minha derrota para o Prémio Sakharov pode estar a manobra de emissários do governo marroquino, com a cumplicidade de parlamentares europeus, é como ser violado uma segunda vez. Se assim fosse, seria uma grave violação dos direitos humanos.
Com este prémio, “a nossa causa teria sido mais conhecida em todo o mundo”, uma vez que o principal objectivo do povo saharaui continua a ser a independência, sublinhou.
Questionada sobre este escândalo dentro do PE, Sultana Khaya disse estar satisfeita por ele ter vindo a lume. “O mundo sabe agora que Marrocos é obrigado a comprar parlamentares para encobrir as suas violações contra nós. Esta é uma vitória para o meu povo”, disse ela.
Rabat após a nomeação de Eva Kaili e Andrea Cozzolino
Mas isso não é tudo. Rabat interveio também alegadamente na “modificação do relatório anual do PE sobre a Política Externa e de Segurança Comum”, mas também na nomeação de eurodeputados para certos cargos-chave na instituição europeia.
De facto, a Makhzen operou no seio da comissão criada para investigar a Pegasus, subornando a deputada Andrea Cozzolino, um dos membros da comissão parlamentar encarregada de investigar a utilização do spyware.
Segundo o jornal – com base num documento datado de 29 de Julho – os investigadores levantam a hipótese de que a eleição de Eva Kaili para a vice-presidência do Parlamento Europeu foi apoiada pelo antigo deputado italiano corrupto Pier Antonio Panzeri e pela sua equipa.
Um extracto deste documento apoia esta hipótese, com “uma investigação sobre uma rede que trabalha em nome de Marrocos, desenvolvendo uma actividade de interferência nas instituições europeias através da corrupção de pessoas em posições-chave no mundo institucional, principalmente dentro do PE”, referindo-se a
Eva Kaili. “A política do grupo parlamentar S&D (Socialistas e Democratas) terá sido influenciada por Marrocos. Uma influência que “chegou às decisões do Parlamento Europeu a favor de Marrocos em várias ocasiões”.
Os investigadores referem-se a “numerosos textos de resoluções votadas”, mas também a “várias declarações da delegação para o Magrebe”, ou seja, a que foi dirigida por Panzeri durante oito anos, de 2009 a 2017.
Entretanto, o Ministério Público de Bruxelas prossegue as suas investigações. A análise dos PCs encontrados nos gabinetes dos assistentes parlamentares revela anomalias relativas a certas nomeações.