PUSL.- A ajuda humanitária (alimentar) que chega aos campos de refugiados saharauis na Hamada (deserto da morte) há mais de 4 décadas baseia-se em quantidades claramente insuficientes para sobreviver mas também num conjunto de “alimentos” unicamente baseados em gordura e hidratos de carbono. Uma dieta que pode ser considerada de emergência tornou-se em algo permanente por mais de 4 décadas.
Segundo a informação recolhida de várias familias e confirmada por pessoal administrativo de uma wilaya (município) a ajuda consiste em: farinha de trigo, óleo, lentilhas, arroz e açúcar. Esta é a cesta básica o resto pode ou não chegar.
Não me vou debruçar sobre quantidades ou melhor dizendo “ausência de quantidades” mas sobre o facto de que centenas de milhares de pessoas durante décadas têm sido obrigadas a sobreviver numa base de hidratos de carbono.
Alguns que visitaram os acampamentos e não tiveram a curiosidade de averiguar o que se passava no seio da familia de acolhimento, irão dizer-vos que comeram iogurtes, legumes, frutas e carne. É verdade, mas esses alimentos têm que ser adquiridos e enquanto as “visitas” recebem este tipo de alimentos as familias na sua grande maioria não têm acesso a eles e carne é algo que comem uma vez por semana se tanto. As frutas, legumes e iogurtes são um luxo.
Simultaneamente realizam-se campanhas a miúde para combater diabetes, uma das doenças perdominantes nos acampamentos, assim como se gasta fortunas na medicamentação para esta doença. Estando mais uma vez a “ajuda humanitária” na linha da frente do combate, pelos menos no que toca à medicamentação, e mais uma vez em quantidades insuficientes.
A anemia é outra doença de que ouvimos falar constantemente e que também está relacionada com a alimentação.
Problemas de tensão arterial acompanham normalmente a diabetes nos doentes saharauis.
Estes refugiados saharauis não necessitariam de um micrograma de ajuda poupando assim milhões aos doadores se o direito internacional fosse respeitado e Marrocos tivesse que abandonar os territórios saharauis ocupados militarmente em 1975 e que até aos dias de hoje ocupa e explora de forma ilegal.
Segundo a ONG WSRW, referindo-se aos territórios ocupados:
“Desde a viragem do século, as plantações de Dakhla têm vindo a florescer. De 2003 a 2005, cerca de 150 ha de infra-estruturas agrícolas estiveram em uso. Em 2010-2012, a área tinha aumentado para 841 ha. Em 2016, cerca de 963 ha estavam em uso. Leia a nota de pesquisa da WSRW “The expansion of plant plant infrastructure in occupied Western Sahara 2003-2016”. (wsrw: https://wsrw.org/en/news/agriculture)
Cada aspecto analisado nos acampamentos de refugiados coloca a nú o mega negócio das “ajudas” e os efeitos secundários perversos para não falar de um falta de ética por parte da comunidade internacional que obriga um povo, dono de riquezas naturais e capacidades humanas, a viver em exílio ou sob uma ocupação sangrenta.
Falar de um genocídio permiditado e lento no caso do povo saharaui não é exagero.
Um povo inteiro foi empurrado para um empobrecimento forçado tanto nos acampamentos onde as possibilidades de emprego são obviamente escassas e reduzidas à realidade e dificulades de um exílio, como nos territórios ocupados onde existe um apartheid economico, social e politico da população saharaui.
A falta de assistência médica intencional nos territórios ocupados e a falta de meios nos acampamentos de refugiados aliada a condições atmosfericas extremas e uma alimentação empobrecida são mais um factor na longa lista de elementos que levam os saharauis a terem doenças crónicas que poderiam ser evitadas.