WASHINGTON – APS-.dz.- Marrocos procura desesperadamente “branquear” a sua ocupação do Sahara Ocidental, desenvolvendo novos projectos de energia nos territórios ocupados e tornando a Europa “cúmplice” das suas actividades ilegais, de acordo com um artigo publicado domingo numa revista americana.
O coordenador da campanha “O Sahara Ocidental não está à venda/WSNS”, Mahfoud Bechri, citado no artigo “Marocgate: Corrupção e energias renováveis sangrentas no Sahara Ocidental”, publicado na revista Forbes, afirma que “a monarquia marroquina tenta branquear a sua ocupação” e que, ao associar empresas estrangeiras aos seus novos projectos, a maior parte dos quais situados fora de Marrocos, nos territórios saharauis ocupados, Rabat “torna a Europa cúmplice e cria uma sensação de +normalidade+ na ocupação”.
Estas empresas “estão conscientes da ilegalidade do que estão a fazer”, afirma Bechri, lembrando que “há um processo de paz e um conflito que, antes de mais, deve ser resolvido”.
“Estas empresas nunca pediram o consentimento do povo saharaui, que é uma etapa legal necessária. Este facto foi confirmado em várias ocasiões por decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)”, afirmou.
No seu artigo, o jornalista Elías Ferrer Breda abordou também o escândalo de corrupção que envolveu o Parlamento Europeu há quase um ano. Explicou como e porquê os lobistas marroquinos subornaram a instituição europeia.
O autor citou, em particular, Abderrahim Atmoun, embaixador marroquino na Polónia, acusado de financiar campanhas políticas e de oferecer presentes luxuosos a deputados europeus como Pier Antonio Panzeri, Eva Kaili e outros.
Para o autor, “há muitas razões para que o governo marroquino tenha sido tão agressivo nas suas actividades de lobbying na Europa, ao ponto de se envolver em actividades ilegais, incluindo o suborno”. Segundo ele, uma das questões-chave era “legitimar a sua ocupação ilegal do Sahara Ocidental”.
No entanto, devido ao estatuto do Sahara Ocidental como Território Não Autónomo em processo de descolonização, segundo as Nações Unidas, “a União Europeia (UE) declarou que não importará energia deste território, que é distinto de Marrocos de acordo com o direito internacional”.
Breda tentou também responder à pergunta: “Porque é que a monarquia marroquina está tão desesperada em transformar o Sahara Ocidental num “negócio rentável”? A principal razão, segundo ele, é “adquirir ‘legitimidade’ e compensar os elevados custos da colonização e, sobretudo, o enorme investimento militar”.
No âmbito do seu projeto de produção de energia verde, a UE deverá “instalar uma grande população de colonos em torno dos territórios ocupados, o que representaria 200 mil trabalhadores assalariados”, revela o autor.
No que respeita ao seu investimento militar, o exército marroquino construiu, nos anos 80, um longo muro de areia, com forte presença de efectivos e tecnologias de vigilância. Os analistas estimam que a manutenção desta estrutura ilegal custa cerca de 2 milhões de dólares por dia. Além disso, está rodeada por milhões de minas terrestres.
As forças de ocupação marroquinas foram também largamente utilizadas em todo o território para reprimir a população saharaui ocupada. Várias ONG e a ONU manifestaram a sua preocupação com as violações sistemáticas dos direitos humanos no Sahara Ocidental ocupado, incluindo a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos.