
2 de agosto de 2016, porunsaharalibre.org
Segunda-feira dia 1 de Agosto, Farhan Haq, porta-voz adjunto do Secretário-Geral da ONU fez a seguinte declaração em relação ao Sahara Ocidental:
“Perguntaram-me na semana passada sobre as viagens de Enviado Pessoal Christopher Ross referentes ao Sahara Ocidental. Durante as últimas semanas, o Sr. Ross tem estado em contacto frequente com as partes e os Estados vizinhos sobre a necessidade de revigorar o processo de negociação Sahara Ocidental, bem como sobre o calendário das suas próximas visitas à região Norte Africana. Agora que o Conselho de Segurança felicitou os resultados do acordo sobre a MINURSO [Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental] e reiterou o seu apelo à renovação das negociações, nada impede agora o regresso do Sr. Ross à região Norte Africana para prosseguir os seus esforços de facilitação. A proposta formal está a ser apresentada às partes e estados vizinhos.”(http://www.un.org/press/en/2016/db160801.doc.htm)
Esta declaração veio no seguimento de uma reunião do Conselho de Segurança (CS) no passado dia 26 de Julho, dia em que terminou o prazo de 90 dias dado a Marrocos para o regresso das dezenas de funcionários civis da MINURSO expulsos em Março deste ano, após a visita de Ban Ki-Moon aos campos de refugiados saharauis. Nesta última reunião, que se prolongou por mais duas horas que o previsto, o presidente actual do Conselho de Segurança, Bessho, embaixador do Japão, deu uma conferência de imprensa que não refletiu o que realmente se passou nem o verdadeiro posicionamento dos membros do CS.
Venezuela e Uruguai emitiram de imediato declarações em que diziam que iriam pedir esclarecimentos a Bessho, que tinha afirmado que o CS estava satisfeito com a atuação de Marrocos, apesar de que o contingente da MINURSO ainda não tinha regressado a sua funcionalidade total. Não se comprometeu nunca com o número, nem prazo de regresso das restantes dezenas de funcionários.
O Embaixador de Marrocos, Omar Hial, na mesma conferência de imprensa falou de um “pacote” negociado com o secretariado da ONU, mais uma vez sem dar pormenores. Esse “pacote“ é desconhecido da maioria dos membros do CS sendo que mais uma vez Venezuela e Uruguai pedem esclarecimentos.
O “pacote MINURSO” mistério de Marrocos e a falta de rigor nas conferências de Imprensa das Nações Unidas
O regresso do contingente civil da MINURSO expulso por Marrocos em Março deste ano, continua a ser procrastinado por Marrocos e a desinformação não apenas da parte Marroquina como da parte dos porta vozes da ONU tem sido uma constante.
A 14 de Julho Stephane Dujarric, porta-voz do SG da ONU, numa conferência de imprensa declarou que um primeiro grupo de 25, dos funcionários da MINURSO que devem regressar ao Sahara Ocidental, tinham aterrado no aeroporto de El Aaiun no dia 13 de Julho.
O jornalista Matthew Russel Lee, da Innercity Press denunciou um dia depois que isto não era verdade, confrontando Farhan Haq, porta voz adjunto do SG, numa conferência de imprensa onde ficou esclarecido que no dia 13 de Julho tinham chegado 4 funcionários, no dia 14 de Julho, 4 funcionários, dia 15 de Julho regressaram outros 5 perfazendo um total de 12 funcionários e não 25. Os restantes
Os restantes 13 funcionários chegaram horas antes do inicio da reunião do CS de dia 26 de Julho.
O suposto “pacote” agora acordado entre Marrocos e o secretariado é mantido em segredo. Não se sabendo qualquer detalhe dos próximos passos nesta questão.
Recordamos ainda que durante a reunião da 4a comissão para a descolonização das Nações Unidas, o representante Marroquino teve que ser chamado várias vezes à ordem porque não queria admitir a presença do representante da Frente Polisario, algo inédito e absurdo, uma que Marrocos se sentou com a Frente Polisario à mesa de negociações durante décadas e o cessar-fogo foi assinado entre ambas as partes com a premissa da realização do referendo de autodeterminação.
Rei Mohamed VI, um déspota sem sabedoria diplomática
Mohamed VI tem repetidamente tomado decisões drásticas ao longo dos anos no que respeita o Sahara Ocidental, declarando que as suas posições e atitudes são irreversíveis. Sendo que estes confrontos in extremis mais visíveis foram o caso da greve de fome de Aminetu Haidar, a suspensão de relações com a União Europeia, o conflito com a Suécia impedindo a abertura da IKEA em Marrocos, e agora mais recentemente a expulsão do contingente civil da MINURSO e os insultos contra o SG das Nações Unidas.
Marrocos teve que sempre fazer marcha atrás e está neste momento a ver como manter a face, sem ser muito humilhado e para isso conta mais uma vez com o apoio de França a face visível dos apoiantes de Marrocos no Ocidente.
O discurso do Mohamed VI, de 30 de Julho, voltou mais uma vez a utilizar uma linguagem intransigente na questão do Sahara Ocidental.
Comunidade Internacional e o referendo
Apesar de todas as manobras de Marrocos é mais que evidente que a Comunidade Internacional e até os “amigos” de Marrocos têm crescente vontade de solucionar o problema definitivamente. O plano de autonomia apresentado por Marrocos não é realista e se for implementado à força será sem dúvida motivo de mais um banho de sangue numa região já de si ameaçada pela instabilidade e guerra. Estes conflitos nunca ficam circunscritos à região e têm um efeito onda que atinge o Ocidente.
É pois agora mais provável que com a pressão da União Africana e os países da América Latina, assim como de alguns amigos de outros continentes o povo saharaui possa finalmente ver o seu desejo de autodeterminação num horizonte mais próximo.
Porunsaharalibre apela mais uma vez a todos os leitores que assinem e divulgem o abaixo assinado para um referendo em 2017 (http://www.westernsahara-referendum.org) que decorre até dia 15 de Agosto.





